terça-feira, 8 de fevereiro de 2011

Perinet Priorat DOQ 2004



O susto...
Este vinho me causou um belo susto esses dias aqui em casa, e me fez abri-lo mais por necessidade do que por vontade. Comprei esta garrafa em uma promoção da Ana Import pela pechincha de 50 reais (custa 215 na importadora, a Península), e na semana passada tive aquela impressão de "vem fácil, vai fácil": A garrafa estava vazando na adega!

Por isso, resolvi abrir logo o vinho, certo de que iríamos encarar a decepção de um vinho totalmente oxidado. Cortei a capsula, e mais um susto, além de totalmente infiltrada, a rolha tinha entrado pelo menos dois dedos pelo gargalo da garrafa. Não consegui nem furar  a rolha com a espiral do saca-rolhas, ela simplesmente escorregou para dentro! 

A degustação...
Passei o conteúdo todo para um decanter, e o aroma invadiu a mesa de jantar. Parecia correto!

Não resisti e servi em uma taça: Cor vermelho-rubi com reflexos violáceos ainda bem intensos para os seis anos e meio do vinho. As lágrimas eram rápidas, finas e muito abundantes e cheias de cor, tingindo a borda da taça toda. Antes, ao passar para o decanter, pude notar que o vinho apresentava sedimentos.

No nariz, a primeira coisa que chamou a atenção foi a intensidade aromática: MUITO INTENSO (primeira vez que digo isso em caixa alta e negrito neste blog). A segunda coisa que me chamou a atenção?! Estava vivo! Nenhuma nota oxidativa!

No início, os brutais 15% de álcool atrapalharam a prova ao aproximar a taça do nariz, mas o decanter ajudou muito neste quesito, em médio prazo. Muita fruta (cereja, ameixa e figo em calda) junto a um floral bem elegante e especiaria (cravo). Também alguns aromas do estágio em madeira, como café e defumado.

Na boca era encorpado, macio, com acidez correta, mas álcool muito, muito forte. Taninos macios, e aveludado, álcool, persistência absurda, passando de 1 minuto!! E mais álcool! Retro-olfato confirmou a complexidade do nariz.

Uma pausa para dados técnicos...
Elaborado na região do Priorato (localizada na Catalunha), este vinho vem de plantas tanto jovens (com 6 a 8 anos de idade), quanto antigas (35 a 80 anos). É um blend de 45% Cariñena, 35% Garnacha, 10% Cabernet Sauvignon, 7% Merlot e 3% Syrah. Segundo a ficha técnica, a safra de 2004 foi considerada excepcional, o que eu confirmei pela tabela de safras da Mistral.

Teve colheita selecionada manual no vinhedo durante a colheita, que ocorreu entre o fim de setembro e o começo de novembro, e seleção dupla (de cachos e depois de frutos após o desengace) em mesas.

Passou por fermentação a 25 graus celsius durante 18 a 22 dias, com pigeage e maceração adequadas a cada variedade. O vinho estagiou sur lies por 15 meses em barricas de carvalho francês de 300 e 400 litros, com fermentação maloláctica. Foi clarificado com claras de ovo, e não foi filtrado (o que se evidencia pelos sedimentos).

Um parecer final...
Bem, este foi o meu primeiro Priorato, e a primeira vez a gente nunca esquece! De fato não é um vinho de dia a dia, tanto pelo preço quanto pela qualidade e estrutura. Já mostrou certa complexidade com 6 anos, e também muita força pra atravessar ainda alguns anos. 

Senti pena de tê-lo bebido tão novo, pois estava com muitas arestas para aparar, sobretudo no que diz respeito ao álcool. Mas com a rolha infiltrada do jeito que estava, não tinha jeito. E por outro lado, me senti muito grato por, mesmo no estado em que a garrafa estava, o vinho ter se mantido inteiro!

Conseguiu tornar uma sexta-feira qualquer em um dia especial!

Perinet Priorat DOQ 2004
Região:  Priorat DOQ - Espanha
Produtor:
Mas Perinet
Importador:
Península
Teor alcoólico:
15%
Casta(s):
45% Cariñena - 35% Garnacha - 10% Cabernet Sauvignon - 7% Merlot - 3% Syrah
Preço: R$ 215,00

7 comentários:

  1. Alexandre acabaste de entrar num mundo muito estranho. Priorato fica numa altura razoavel algo perto de 800 metros e muito perto do mar. O que isto quer dizer? Altura e mar? Noites de verão bem frescas para o calor escaldante do litoral, uvas que no final de maturação ganham grande capacidade de concentração de açúcar (álcool) e fixação de aromas.

    Mas, cuidado, nesta região já bebi vinhos que viraram tempero para uma excelente carne assada (sem brincadeira) como verdadeiras joias engarrafadas. A linha da Martinet Bru da Grand Cru, MAS, POR FAVOR NÃO COMPRE O EUNATE DESTE PRODUTOR e sim os mais caros, penso que começam por 150 reais. Bem, bem aí é maravilhoso.

    Sabe, no fundo porque variam tanto? As videiras mais antigas, muitas vezes são dominadas pelos produtores locais, aí são vinhos duros e concentrados. Mas, recentemente, a região foi "invadida" por produtores franceses que domaram o binômio clima-solo e vem fazendo vinhos de exceção. Aqui, certamente, a equação custo benefício não funciona.

    Desculpa me alongar no comentário, mas ele era pertinente.

    Um abraço Peter ( www.alemdovinho.wordpress.com)
    _

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  2. Seus comentários são sempre bem vindos, Peter! Vai me dever desculpas no dia em que deixar de postar aqui.

    Eu aprendo muito sempre que você vem aqui, ou eu vou no seu blog, e também acho teus comentários muito enriquecedores para os meus leitores!

    Felizmente, este foi um Priorato que valeu a pena!

    Um abração!

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  3. Caro Alexandre,
    Também sou jornalista, moro em Salvador e gosto muito de vinhos, e tenho visitado bastante o seu blog para ler os comentários, consistentes e despidos de esnobismo. O Notas Etílicas e o Vinho para Todos são hoje os meus preferidos. E, claro, fiquei louco para beber esse Priorat.
    Grande abraço.

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  4. Este comentário foi removido pelo autor.

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  5. Olá Paulo!

    Agradeço pelos elogios ao blog, sobretudo a parte do "despidos de esnobismo"! Vinho existe pra aproximar pessoas, e não afastá-las.

    Além do meu blog, procure outros lá no enoblogs, e leia o "Além do Vinho" do Peter, que comentou aí em cima. É uma ótima referência!

    Um abraço e vamos manter contato!

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  6. Olá Alexandre, sou sommelière e realmente a questão da rolha neste vinho parece ser um problema de lote... Abri uma garrafa essa semana e estava exatamente como você descreveu... Tanto que decidi acabar com o estoque vendendo a preço de custo no restaurante... R$ 115,00.

    Parabéns pelo seu blog!

    Abraços

    Gabriele Frizon

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    1. Oi Gabriele,

      Desculpa a demora na resposta. De qualquer forma de lá quando eu degustei pra cá, se passaram alguns anos e ele já está com 10.

      Penso que já esteja mais pronto para beber, se desconsiderarmos a questão da rolha.

      Mas você também teve problemas com a vedação?

      Um abraço!

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